segunda-feira, 10 de junho de 2013

Psicólogos ajudam pacientes a emagrecer com balão imaginário no estômago.



Colocar um balão no estômago para comer menos é uma ideia que provavelmente já passou pela cabeça de quem já tentou de tudo para emagrecer e não teve sucesso. Mas toda a gente sabe que o procedimento, apesar de menos invasivo que a cirurgia de redução do estômago, tem os seus riscos e só é indicado para pacientes graves. Então, que tal colocar um balão imaginário, numa sessão de hipnose?

A hipnose é uma ferramenta que tem sido adotada, há bastante tempo, por profissionais de saúde para  tratar problemas como dor, ansiedade e depressão. E lutar contra a compulsão por comida está no objectivo de alguns especialistas.

Um dos profissionais que abraçou a estratégia é o psicólogo Benomy Silberfarb, de Porto Alegre, autor do livro "Hipnoterapia Cognitiva" (Ed. Vetor). Aplicado por ele desde 1998, o chamado "Balão Intragástrico Imaginário" foi adaptado de um método desenvolvido por especialistas espanhóis.

Em primeiro lugar, é preciso esclarecer que só é hipnotizado quem quer, e a pessoa fica consciente o tempo todo. O transe é mais um estado de relaxamento profundo, em que é mais fácil visualizar o que o terapeuta propõe.

Em segundo, o trabalho não consiste somente em colocar o balão imaginário e pronto. No método desenvolvido, a hipnose é apenas um coadjuvante da terapia cognitivo-comportamental clássica, que em resumo consiste em fazer a pessoa entender o que a leva a comer demais e propor instrumentos para modificar o padrão. Em paralelo, o paciente deve ter uma proposta alimentar bem definida e praticar alguma atividade física.

O trabalho completo envolve várias sessões e só nas consultas finais é que o balão é "colocado", desde que o terapeuta avalie que vai funcionar para aquele caso. Antes disso, porém, o paciente já aprende a identificar gatilhos e a mudar o seu comportamento diante da comida e, em principio já começa a emagrecer.

Cirurgia imaginária

Embora seja apenas parte do processo, a "colocação" do balão é bem peculiar. Para ajudar o paciente a vivenciar o "procedimento", Silbefarb utiliza um software que simula sons de um centro cirúrgico, com monitor cardíaco e tudo. O braço de quem está sob hipnose é tocado no momento da "aplicação da anestesia" e a pessoa ouve até o "cirurgião" encher o balão.


Nas sessões seguintes, o paciente aprende a auto-hipnotizar-se e é orientado a "fazer a manutenção" em casa. Algo simples - uma espécie de mantra que a pessoa entoa algumas vezes antes de dormir, uma ou mais vezes por semana. Terminada a fase das consultas semanais, o ideal é que o paciente vá ao consultório uma vez por mês até se sentir independente. O preço de cada sessão varia entre terapeutas, mas equivale a uma consulta ao psicólogo.

É importante dizer que nem todo a gente é suscetível à hipnose. "Cerca de 98% dos pacientes são, e isso é algo hereditário", diz Silberfarb. Em 1% dos casos, a pessoa simplesmente não quer ser hipnotizada, muitas vezes por não aceitar a ideia de não ser quem está no controle - algo que tem a ver com a personalidade. A parcela restante é de indivíduos com transtornos psicológicos graves ou com deficit de atenção alto.

Aversão ou âncora

Uma das etapas do trabalho consiste em fazer o paciente desenvolver autocontrole quando está exposto ás tentações alimentares. E cada um tem seu ponto fraco: algumas pessoas não resistem a um pedaço de bolo, por exemplo, enquanto outras não abrem mão da cerveja no fim de semana.

Com a hipnose, os terapeutas conseguem simular situações de exposição ao alimento e aversão. Se o paciente tem nojo de um pedaço de cabelo na comida, por exemplo, pode imaginar, durante o transe, um monte de fios de cabelo espalhados naquele prato de massa que o faz sair da dieta todos os domingos. E aí um padrão positivo se concretiza: a pessoa percebe que é capaz, sim, de recusar a iguaria sem sofrer. 

Outra estratégia utilizada no processo é o que se chama de instalação de âncoras. Ou seja: a pessoa adopta um comportamento para desfazer o gatilho da compulsão. Se ela abre a gaveta e pega um chocolate sempre que está stressada, "aprende", com ajuda da hipnose, a trocar a atitude por um gesto, como fazer uma figa, por exemplo. Pode parecer coisa de malucos mas, à medida que a pessoa ganha autoconfiança, vai perdendo a necessidade de usar essas muletas.

Cada caso, uma saída

Mesmo sabendo que não iria a ter ânsia diante dos doces, a sua maior paixão, a advogada Luciana não quis fazer esse tipo de associação durante a hipnose. Nem por isso ficou sem alternativa: ela se condicionou, nas sessões, a trocar o pedaço de bolo por uma fruta ou um copo de água. E, para ela, resultou. "Estou desde outubro do ano passado sem comer doce", comemora.

Depois da "colocação" do balão, a advogada também percebeu que podia satisfazer-se com quantidades menores. Resultado? Ela perdeu 17 kg nos últimos oito meses e recuperou a autoestima.

Luciana confessa que tinha "um pé atrás" em relação à hipnose, mas hoje acredita que a técnica pode ser útil em diversos aspectos da vida. Tanto que agora está a utilizar o mesmo tipo de terapia com foco na sua área profissional.

Vitória Pereira também admite que tinha uma noção estereotipada sobre a hipnose. Mas ela já tinha tentado por diversas vezes soluções malucas, como a dieta da sopa e a do limão, e só continuava a engordar. Então decidiu matar a curiosidade, depois de ler sobre o balão imaginário na internet. Depois de começar a terapia, viu que o transe nada mais é que "um relaxamento incrível".

Após vencer a compulsão pelos doces e diminuir as quantidades, com ajuda do balão imaginário, ela emagreceu 14 kg. "Foram mais ou menos 3 kg por mês", conta. Está há dois meses fazendo a "manutenção", com uma sessão por semana de auto-hipnose. Assim como Luciana, ela diz que "a comida deixou de ser o mais importante".



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