quarta-feira, 23 de maio de 2012

O Sofrimento

Desde os tempos mais remotos que o Homem se pergunta sobre o porquê do sofrimento. Se Deus é pai, por que razão existe tanto sofrimento? Se Deus é amor e compaixão, por que razão existe tanto sofrimento? Nunca surgiu uma resposta satisfatória para esta pergunta. No entanto, se compreender Jesus, compreenderá a resposta. O Homem sofre porque não existe outra forma de amadurecer e de crescer. O Homem sofre porque só através do sofrimento se torna consciente, e a consciência é a chave.

   Observe a sua vida: sempre que se sente mais confortável, descontraído e feliz, o seu nível de consciência desce. Quando assim é, vive numa espécie de adormecimento, como que hipnotizado, sonâmbulo. É por esse motivo que, sempre que não existe sofrimento, a religião desaparece da sua vida. Você deixa de frequentar o templo, pois isso deixa de fazer sentido, e deixa igualmente de rezar. Porquê? Não parece existir uma razão plausível para isso.

    Sempre que está em sofrimento, dirige-se ao templo, os seus olhos viram-se para Deus e o seu coração para a oração. Existe algo de oculto no sofrimento que faz de si um ser mais consciente daquilo que é, do seu caminho de vida e da razão pela qual vive. A sua consciência intensifica-se nos momentos de sofrimento.

    Nada é destituído de significado. Estamos a falar de um cosmos, e não de um caos. Pode não conseguir compreender isto – mas essa é outra questão -, porque apenas tem acesso a fragmentos, e não possui o conhecimento do todo. A sua experiencia de vida é diminuta, comparável a uma página solta de um romance: pode lê-la, mas o seu conteúdo não faz qualquer sentido, porque se trata de uma pequena parte, desconhecendo o leitor a totalidade da história. Quando conhece a história na íntegra, então essa página isolada torna-se compreensível, coerente e significativa. (...)

Jesus disse: “Abençoados os que sofrem, pois são eles que encontram a vida”.

   Parece absurdo e paradoxal! Jesus disse: Abençoados os que sofrem (...). Normalmente, dizemos que alguém é abençoado precisamente quando sabemos que essa pessoa nunca sofreu. Por outro lado, já conhecei alguém que nunca tenha sofrido? Se alguma vez encontrar uma pessoa que nunca tenha sofrido, verá que essa pessoa lhe vai parecer absolutamente juvenil, imatura, sem qualquer sinal de crescimento interior, sem qualquer profundidade e consciência, enfim, um verdadeiro idiota. Pode então dizer que esse idiota é um abençoado? Impossível!

   Só uma pessoa que nunca tenha tentado viver, que tenha sempre evitado a vida, consegue não sofrer. É por esse motivo que, em famílias ricas, apenas nascem idiotas, devido ao excesso de proteção de que são alvo. Quando protege alguém de forma excessiva, não está a proteger essa pessoa da morte, mas sim da própria vida. E é precisamente aí que reside o problema: para proteger alguém da morte, é preciso protege-la da vida, pois a vida conduz à morte. Por isso se tem medo da morte, não viva.

   O sofrimento é um desafio; quando você sofre, é desafiado, quando se depara com um problema, é desafiado. Quando vai ao encontro do problema, cresce. Quanto maior for a insegurança, maior será o crescimento; quanto maior for a segurança, menor será o crescimento. Se tudo o que existe à sua volta estiver seguro, é porque você já se encontra no seu túmulo, e já não está vivo. A vida existe no perigo, na possibilidade de a pessoa  de transviar. Mas quem transvia pode regressar, quem falha pode vencer.

   Napoleão foi vencido. Escreveu uma frase muito bela no seu diário –“Só uma batalha está perdida, mas não a guerra”. Se quiser ganhar a guerra, terá de vencer muitas batalhas. Se temer perder uma batalha, nunca irá à guerra... (...)

   Um homem de sabedoria sofre tanto como um homem comum, mas, em cada situação, o sofrimento é sempre diferente. Um homem de sabedoria comete tantos ou mais erros do que um homem estúpido, mas nunca comete o mesmo erro duas vezes. Essa é a única diferença: a quantidade pode ser superior, mas a qualidade é diferente. Um idiota pode não cometer tantos erros, pode até nem cometer erro nenhum, pela simples razão de que nunca fará seja o que for com a sua vida. Só se erra quando se faz alguma coisa. (...)

   As pessoas que sofrem tornam-se mais alertas, e o estado de alerta é a chave para o templo da vida. Quanto mais alerta estiver, mais elevado será o seu nível de consciência.

   O que é que o diferencia das árvores? As árvores são belas, mas não são superiores ao ser humano, porque permanecem inconscientes. No fundo, o aspecto mais básico que lhe confere humanidade ainda não aconteceu. É a consciência que o torna humano, e é aí que reside a beleza: sempre que está consciente, o sofrimento desaparece. O sofrimento acarreta consciência, mas quando você aprofunda essa consciência, o sofrimento desaparece. Há que compreender esta lei: se lhe dói a cabeça, ganha consciência de que ela existe. Se isso não acontecesse, ninguém teria consciência da própria cabeça. Só se torna consciente do seu corpo quando algo corre mal.

   Em sânscrito, existe uma palavra muito bela para designar “sofrimento”: vedant  , que possui dois significados – “sofrimento” e “conhecimento”. Vedant provém da mesma raiz de veda, que, por sua vez, significa “fonte de conhecimento”. Quem decidiu escolher esta palavra para designar “sofrimento” tinha consciência de que o conhecimento provém do sofrimento, daí que a mesma palavra designe ambos os aspectos.

   Quando uma pessoa sofre, torna-se imediatamente  mais consciente. O estômago apenas existe, para si, quando sente dores. Este órgão pode ter estado sempre presente no seu corpo, mas não na sua consciência, daí que a ciência médica, em particular a ayurvédica, defina saúde como ausência de corpo”. Quando não tem consciência do seu corpo é porque está de boa saúde. Quando conduz um automóvel, está atento aos ruídos do motor, ficando alerta quando ouve um ruído fora do comum. Quando “ronrona” monotonamente, é porque está tudo bem com a viatura. No entanto, se ouvir um pequeno ruído no motor, ou noutras partes do carro, vai tomar consciência de que algo está errado. As pessoas só se tornam conscientes quando alguma coisa corre mal. (...)

Sempre que estiver  a sofrer, procure não se lamentar nem alimentar angustias. Observe, sinta, veja esse sofrimento sob vários pontos de vista. Faça do seu sofrimento um acto de meditação e observe o que acontece: a energia que alimenta a doença e que criava sofrimento transforma-se; essa mesma energia transforma-se em consciência, pois não existe, duas energias no seu interior: a energia é apenas uma.

(...) observe o seu sofrimento e faça dele o seu objecto de meditação. Encare o sofrimento como se de um objecto se tratasse.

(sobre a energia) Quando uma mãe amamenta o seu filho não está, como sempre se pensou, apenas a dar-lhe leite. Os biólogos descobriram um facto mais profundo: que a mãe transmite energia para o bebé, sendo o leite a componente física dessa energia. Para chegarem a esta conclusão, fizeram muitas experiências. Alimentaram crianças com produtos de qualidade, de acordo com os requisitos definidos pela ciência. As crianças receberam todos os nutrientes necessários e nas proporções corretas, mas não foram acarinhadas nem mimadas pela mãe.    O leite foi-lhes administrado por equipamentos mecânicos, assim como as vitaminas necessárias. No entanto, verificou-se que as crianças pararam de crescer e começaram a encolher, como se a vida lhes fugisse. Porquê, se todos os ingredientes do leite materno estavam a ser administrados? (...)

   Quando uma mãe abraça o seu filho, existe um fluxo de energia. É uma energia invisível, a que chamamos calor e carinho. Algo “salta” da mãe para o filho, e também do filho para a mãe. É por esse motivo que as mulheres se tornam mais belas quando são mães. Até esse momento, falta-lhes qualquer coisa; a mulher não está completa, o círculo não está fechado. Quando a mulher é mãe, o círculo fecha-se e desce sobre ela um estado de graça proveniente de uma fonte desconhecida. Assim, não é apenas a mãe que nutre o filho, é também o filho que alimenta a mãe. É uma troca feliz.

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