Desde os tempos mais remotos que o Homem se pergunta sobre o
porquê do sofrimento. Se Deus é pai, por que razão existe tanto sofrimento? Se
Deus é amor e compaixão, por que razão existe tanto sofrimento? Nunca surgiu
uma resposta satisfatória para esta pergunta. No entanto, se compreender Jesus,
compreenderá a resposta. O Homem sofre porque não existe outra forma de
amadurecer e de crescer. O Homem sofre porque só através do sofrimento se torna
consciente, e a consciência é a chave.
Observe a sua vida: sempre que se sente mais confortável,
descontraído e feliz, o seu nível de consciência desce. Quando assim é, vive
numa espécie de adormecimento, como que hipnotizado, sonâmbulo. É por esse
motivo que, sempre que não existe sofrimento, a religião desaparece da sua
vida. Você deixa de frequentar o templo, pois isso deixa de fazer sentido, e
deixa igualmente de rezar. Porquê? Não parece existir uma razão plausível para
isso.
Sempre que
está em sofrimento, dirige-se ao templo, os seus olhos viram-se para Deus e o
seu coração para a oração. Existe algo de oculto no sofrimento que faz de si um
ser mais consciente daquilo que é, do seu caminho de vida e da razão pela qual
vive. A sua consciência intensifica-se nos momentos de sofrimento.
Nada é destituído
de significado. Estamos a falar de um cosmos, e não de um caos. Pode não
conseguir compreender isto – mas essa é outra questão -, porque apenas tem
acesso a fragmentos, e não possui o conhecimento do todo. A sua experiencia de
vida é diminuta, comparável a uma página solta de um romance: pode lê-la, mas o
seu conteúdo não faz qualquer sentido, porque se trata de uma pequena parte,
desconhecendo o leitor a totalidade da história. Quando conhece a história na
íntegra, então essa página isolada torna-se compreensível, coerente e
significativa. (...)
Jesus disse: “Abençoados
os que sofrem, pois são eles que encontram a vida”.
Parece absurdo e paradoxal! Jesus disse: Abençoados os que
sofrem (...). Normalmente, dizemos que alguém é abençoado precisamente quando
sabemos que essa pessoa nunca sofreu. Por outro lado, já conhecei alguém que
nunca tenha sofrido? Se alguma vez encontrar uma pessoa que nunca tenha
sofrido, verá que essa pessoa lhe vai parecer absolutamente juvenil, imatura,
sem qualquer sinal de crescimento interior, sem qualquer profundidade e
consciência, enfim, um verdadeiro idiota. Pode então dizer que esse idiota é um
abençoado? Impossível!
Só uma pessoa
que nunca tenha tentado viver, que tenha sempre evitado a vida, consegue não
sofrer. É por esse motivo que, em famílias ricas, apenas nascem idiotas, devido
ao excesso de proteção de que são alvo. Quando protege alguém de forma
excessiva, não está a proteger essa pessoa da morte, mas sim da própria vida. E
é precisamente aí que reside o problema: para proteger alguém da morte, é
preciso protege-la da vida, pois a vida conduz à morte. Por isso se tem medo da
morte, não viva.
O sofrimento
é um desafio; quando você sofre, é desafiado, quando se depara com um problema,
é desafiado. Quando vai ao encontro do problema, cresce. Quanto maior for a
insegurança, maior será o crescimento; quanto maior for a segurança, menor será
o crescimento. Se tudo o que existe à sua volta estiver seguro, é porque você
já se encontra no seu túmulo, e já não está vivo. A vida existe no perigo, na
possibilidade de a pessoa de transviar.
Mas quem transvia pode regressar, quem falha pode vencer.
Napoleão foi
vencido. Escreveu uma frase muito bela no seu diário –“Só uma batalha está perdida, mas não a guerra”. Se quiser ganhar a
guerra, terá de vencer muitas batalhas. Se temer perder uma batalha, nunca irá
à guerra... (...)
Um homem de
sabedoria sofre tanto como um homem comum, mas, em cada situação, o sofrimento
é sempre diferente. Um homem de sabedoria comete tantos ou mais erros do que um
homem estúpido, mas nunca comete o mesmo erro duas vezes. Essa é a única
diferença: a quantidade pode ser superior, mas a qualidade é diferente. Um
idiota pode não cometer tantos erros, pode até nem cometer erro nenhum, pela
simples razão de que nunca fará seja o que for com a sua vida. Só se erra
quando se faz alguma coisa. (...)
As pessoas
que sofrem tornam-se mais alertas, e o estado de alerta é a chave para o templo
da vida. Quanto mais alerta estiver, mais elevado será o seu nível de
consciência.
O que é que o
diferencia das árvores? As árvores são belas, mas não são superiores ao ser
humano, porque permanecem inconscientes. No fundo, o aspecto mais básico que
lhe confere humanidade ainda não aconteceu. É a consciência que o torna humano,
e é aí que reside a beleza: sempre que está consciente, o sofrimento
desaparece. O sofrimento acarreta consciência, mas quando você aprofunda essa
consciência, o sofrimento desaparece. Há que compreender esta lei: se lhe dói a
cabeça, ganha consciência de que ela existe. Se isso não acontecesse, ninguém
teria consciência da própria cabeça. Só se torna consciente do seu corpo quando
algo corre mal.
Em sânscrito,
existe uma palavra muito bela para designar “sofrimento”: vedant , que possui dois significados
– “sofrimento” e “conhecimento”. Vedant
provém da mesma raiz de veda, que,
por sua vez, significa “fonte de conhecimento”. Quem decidiu escolher esta
palavra para designar “sofrimento” tinha consciência de que o conhecimento
provém do sofrimento, daí que a mesma palavra designe ambos os aspectos.
Quando uma
pessoa sofre, torna-se imediatamente
mais consciente. O estômago apenas existe, para si, quando sente dores.
Este órgão pode ter estado sempre presente no seu corpo, mas não na sua consciência,
daí que a ciência médica, em particular a ayurvédica, defina saúde como
ausência de corpo”. Quando não tem consciência do seu corpo é porque está de
boa saúde. Quando conduz um automóvel, está atento aos ruídos do motor, ficando
alerta quando ouve um ruído fora do comum. Quando “ronrona” monotonamente, é
porque está tudo bem com a viatura. No entanto, se ouvir um pequeno ruído no
motor, ou noutras partes do carro, vai tomar consciência de que algo está
errado. As pessoas só se tornam conscientes quando alguma coisa corre mal.
(...)
Sempre que
estiver a sofrer, procure não se
lamentar nem alimentar angustias. Observe, sinta, veja esse sofrimento sob
vários pontos de vista. Faça do seu sofrimento um acto de meditação e observe o
que acontece: a energia que alimenta a doença e que criava sofrimento
transforma-se; essa mesma energia transforma-se em consciência, pois não
existe, duas energias no seu interior: a energia é apenas uma.
(...) observe o seu sofrimento e faça dele o seu objecto de
meditação. Encare o sofrimento como se de um objecto se tratasse.
(sobre a energia) Quando uma mãe amamenta o seu filho não
está, como sempre se pensou, apenas a dar-lhe leite. Os biólogos descobriram um
facto mais profundo: que a mãe transmite energia para o bebé, sendo o leite a
componente física dessa energia. Para chegarem a esta conclusão, fizeram muitas experiências. Alimentaram crianças com produtos de qualidade, de acordo com os
requisitos definidos pela ciência. As crianças receberam todos os nutrientes
necessários e nas proporções corretas, mas não foram acarinhadas nem mimadas
pela mãe. O leite foi-lhes administrado por equipamentos mecânicos, assim como
as vitaminas necessárias. No entanto, verificou-se que as crianças pararam de
crescer e começaram a encolher, como se a vida lhes fugisse. Porquê, se todos
os ingredientes do leite materno estavam a ser administrados? (...)
Quando
uma mãe abraça o seu filho, existe um fluxo de energia. É uma energia
invisível, a que chamamos calor e carinho. Algo “salta” da mãe para o filho, e
também do filho para a mãe. É por esse motivo que as mulheres se tornam mais
belas quando são mães. Até esse momento, falta-lhes qualquer coisa; a mulher
não está completa, o círculo não está fechado. Quando a mulher é mãe, o círculo
fecha-se e desce sobre ela um estado de graça proveniente de uma fonte
desconhecida. Assim, não é apenas a mãe que nutre o filho, é também o filho que
alimenta a mãe. É uma troca feliz.
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Tentarei ser breve na resposta.
Obrigado!