A IMPORTANCIA DA RESPIRAÇÃO
Sabemos por experiencia própria que, quando a
nossa respiração está agitada, frenética, superficial, todo o nosso organismo
está descompensado – normalmente a sofrer de ansiedade.
Podemos voluntariamente e propositadamente, regular
e controlar a nossa respiração para nos preparar e organizar perante um
acontecimento, uma decisão ou até uma dificuldade que precise de um pouco de
distanciamento e um pouco de calma e tranquilidade. Percebemos também e por
experiencia própria, que controlar a função respiratória é a chave para se
conseguir um equilíbrio.
Hoje,
por incrível que pareça, existem psicoterapeutas, médicos e até hospitais que
promovem a pratica de técnicas de respiração baseadas e inspiradas pelas
técnicas orientais. Eles têm razão de, finalmente, reconhecer a sabedoria do
empirismo oriental e a ciência que decorre dessa observação minuciosa de cada
estado do nosso ser há milhares de anos.
A fisiologia moderna descreve dois sistemas
nervosos “autónomos”. Foram batizados assim porque, em principio, funcionam por
conta própria, não se consegue “controlar” e são activados biologicamente
perante uma ameaça real ou imaginada, ligadas aos processos de luta e fuga.
Esses sistemas geram a forma como o nosso meio externo ou interno o “obriga”.
Por exemplo, no frio, automaticamente o meu corpo toma providencias que
conscientemente não sou capaz de ter (arrepios, aumento da temperatura, redução
da sudorese, etc.). Quando ficamos tristes, mesmo não querendo, as lágrimas
escorrem pela nossa cara. São sistemas realmente autónomos (Sandor, 1982).
O sistema nervoso simpático tem a sua atenção
(organismo) voltada para o exterior, respondendo ao meio ambiente e ás suas
supostas ameaças, e coloca-nos num estado de alerta: é o responsável pela
estimulação e produção de adrenalina, cortisol (hormona do stress), acelera o
ritmo cardíaco, aumenta a pressão arterial e muscular, tremor, etc. O sistema
nervoso parassimpático por sua vez, leva a sua atenção voltada para o interior
e inicia processos de restauração da energia do próprio organismo: alaga o
nosso sistema com acetilcolina (neurotransmissor), desacelera os batimentos
cardíacos, baixa a pressão arterial, relaxa os músculos, originando um estado
de calma e tranquilidade, procurando um equilíbrio, a homeostase (Sandor,
1982).
Dentro da mecânica da respiração, a nossa
maneira de respirar pode ajudar cada um desses sistemas a dominar o outro nos
momentos certos. Quando a inspiração e a expiração são superficiais e, quando
só a caixa torácica se movimenta, como se respirássemos num corpete que aperta
a cintura, o nosso sistema simpático passa a “comandar” e sentimos a
necessidade de colocar mais oxigénio nos pulmões, promovendo o que chamamos de
hiperventilação.
Segundo Sandor (1982), essa respiração está
exageradamente rápida e deixa o sujeito sem fôlego, mesmo quando estamos no
meio de um esforço físico. Anula quase que completamente a contribuição do
sistema nervoso parassimpático neste processo. Pode até, nos piores momentos,
vir a desencadear uma violenta crise de ansiedade, podendo provocar um ataque de
pânico ou, na melhor das hipóteses, podemos ficar mais sensíveis às agressões e
ameaças do mundo externo: irritabilidade por pequenas coisas; medos infundados;
querendo fugir de um acidente banal, interpretado de uma forma exagerada e
catastrófica; com uma enorme vontade de compensar com qualquer coisa que possa
baixar o nosso nível de ansiedade como o chocolate, bebidas alcoólicas, doces,
cigarros, drogas, etc.
Ao contrário, uma respiração lenta e
específica coloca em acção o diafragma, que sobe e desce, permitindo que o ar,
ritmicamente, entre profundamente nos nossos pulmões (colocando as mãos na
cintura, podemos sentir que os polegares se afastam a cada inspiração),
inserindo sete vezes mais oxigénio do que na respiração peitoral, torácica.
Respirando deste maneira, o sistema parassimpático fica com o controlo e
bloqueia os efeitos ansiogénicos estimuladores do sistema simpático: a tensão
do corpo começa a diminuir a cada expiração (Horn, 1986).
Não é surpresa que neste estado e forma de
respirar, seja a condição ideal para entrar num estado de meditação ou num
outro estado qualquer de paz e tranquilidade.
Esta é uma das explicações pelo que o relaxamento e
a respiração, sejam instrumentos fundamentais para vários campos terapêuticos
como o é na Hipnoterapia (ou nas próprias técnicas de indução à Hipnose).
Podemos pensar que estar atentos à respiração ou
respirar da maneira “abdominal” é muito difícil. Pode ser que sim, muitas
pessoas perdem essa forma ideal de respirar que sabiam naturalmente quando nasceram.
O bebé respira pelo abdómen e, espontaneamente,
pratica um método ensinado pelas grandes tradições espirituais como o yoga, por
exemplo. Infelizmente, o adulto, sobrecarregado pelas preocupações excessivas e
pela ansiedade, vai perdendo essa maneira ideal e natural de respiração,
acabando por usar mais o tórax do que o abdómen, o que leva obrigatoriamente a
mais tensão e ansiedade.
Torna-se um circulo vicioso que, com um pouco de
atenção e treino, podemos substituir por um círculo virtuoso, no qual a cada
dia estaremos mais tranquilos e calmos.
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